2008-01-15

MEMÓRIAS DE UM DINOSSÁURIO

Para relatar a vivência de um mundo já extinto, seria o conceito lógico de quem procura um titulo para uma crónica e simultaneamente se assume como testemunha de um tempo até alí duradouro, mas que simultaneamente entrava em processo de rápida transformação de descontinuidade, longe do paradigma das suaves mudanças até ali verificadas, ao ponto de após quatro decadas decorridas, poucos vestigios existirão daquilo que mais vincadamente determinava a realidade conceptual de toda uma região em redor do (estuário do Tejo) Mar da Palha, objecto das minhas futuras crónicas.
Mas se a testemunha existe, é um paradoxo chamar-lhe dinossáurio por esta ser uma especie extinta do mundo dos vivos, e eu estar longe do mundo dos fosseis. Por esta razão o conceito que procuro é mais de natureza subliminar, fazer fluir para a blogosfera factos pasmados em memória, de uma intensa vivência onde a observação e aprendizagem são apanágio de qualquer adolescência sadia e feliz, e virtualmente colectados em trabalho de campo arqueológico de quem nasce com alma ribeirinha.
A modos como quem paga uma dívida, ou se revê na parabola do filho pródigo que regressa à terra pouco revisitada desde o momento em que lá deixou de viver, e conviver portanto com as pessoas da sua estimação, substituidas por simbologias vivas mas fixas no tempo, onde inevitavelmente as influências emocionais esbatem-se primeiro, desvanecem-se depois, e apenas fica o legado da memória, como se de uma pintura ou fotografia que se gosta.
Dessas pinturas ou fotografias da minha colecção, vos falarei em próximas crónicas, e que desde já vou datá-las documentalmente como Alcochete, 1955-1965: Dez anos de um passado, inexoravelmente passado.

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